“PDR 2020 é a última oportunidade para a agricultura portuguesa”

Licinio Pina

O cadastro predial que, neste momento, apenas está a ser executado a título experimental nos municípios de Paredes, Penafiel, Oliveira do Hospital, Seia, Tavira, São Brás de Alportel e Loulé, “tem de avançar definitivamente” e em todo o território nacional. E “tem de ser um processo muito mais célere” e com “muito mais fundos direcionados” para a sua concretização, defende o presidente do Crédito Agrícola, que vê nele a forma de “resolver o problema da titularização da propriedade” e um caminho para o “emparcelamento” e o “crescimento do PIB agrícola”.
Em declarações à “Vida Económica” em Viana do Castelo, à margem de um workshop dedicado ao novo Programa de Desenvolvimento Rural (PDR 2020), Licínio Pina não quis antecipar os resultados de 2014 que o banco vai apresentar publicamente na próxima semana. Garantiu, contudo, que são “muito positivos”, com “valores bons e que se distinguem dos apresentados pelos grandes bancos”, que registaram centenas de milhões de euros de prejuízos o ano passado.

“O PDR 2020 será a última oportunidade para que a agricultura portuguesa se afirme definitivamente no panorama europeu”, garante Licínio Pina, presidente do Crédito Agrícola, à “Vida Económica”, ciente de que, para o banco que dirige, esta é, também, “mais uma oportunidade de fazer crescer e desenvolver as regiões rurais do interior do país” através deste programa e com os financiamentos que será necessário conseguir. E o cadastro predial, lançado em 2009 mas que está longe do fim, deve “avançar rapidamente”, pois ,“se for executado a este ritmo, nem daqui por 20 anos está conseguido”.
Recorde-se que, numa resolução do Conselho de Ministros de 11 de dezembro de 2013 foi estabelecido um limite máximo de despesa para esse efeito e para esse ano de 2 263 836,55 euros, acrescido de IVA. Para 2014, a imposição foi de 5 960 034,28 euros e em 2015 de 5 622 816,17 euros, tendo ficado determinado o alargamento do prazo de execução, sem qualquer acréscimo de encargos para o Estado e beneficiando da reprogramação do POVT (Programa Operacional Temático Valorização do Território), cuja comparticipação passou de 85% para 100%.
O Crédito Agrícola dispõe de 683 balcões espalhados pelo país. É assim desde 2013, e o mesmo número manteve-se em 2014 e, para 2015, pese embora algum “ajustamento” e “reorientação” na localização geográfica das suas dependências, o número vai manter-se, “sem redução de balcões e sem despedimentos”. “Pode haver um ou outro encerramento pontual, mas vai haver também a abertura de novos balcões”, revelou Licínio Pina à “Vida Económica”, explicando que veem “oportunidades onde os outros veem dificuldades”. Aliás, acrescenta: “ainda recentemente vi na televisão que a CGD encerrava um balcão numa localidade e, curiosamente, nós temos um pedido de autorização do Crédito Agrícola para abrir exatamente nessa localidade”. A tática é, pois, “trabalhar próximo das pessoas”.
O Crédito Agrícola é “o banco agrícola há mais de 100 anos”, disse ainda o presidente do banco durante a sua intervenção no workshop organizado pela Caixa do Noroeste do Crédito Agrícola, em parceria com a “Vida Económica”, em Viana do Castelo. Em todo o caso, “o rural é muito mais que agricultura”, é “prestar um serviço de proximidade” e ser “uma banca diferenciada” da restante.
“Quem diria que o Banco Central Europeu iria ter de supervisionar os bancos nacionais e quem diria que os bancos nacionais iriam ter falta de dinheiro?”, questionou Licínio Pina perante dezenas de agricultores do Alto Minho. Respondeu-lhes, porém, logo a seguir com a constatação de que “a banca cooperativa passou muito mais resiliente aos choques” financeiros, suportando-os “melhor e sem necessidade de auxílios estatais”.
Frisando que há “a boa banca e a má banca”, Licínio Pina afirmou que “os bancos bons não se avaliam só pelos lucros, mas pela ética”, como disse ser o caso do Crédito Agrícola que, em sua opinião, “se distingue pela ética nos negócios” e por “falar verdade” aos clientes e ao país. E, na instituição financeira que dirige, garante, “sente-se que estamos perante um banco de confiança”. Conclui, aliás, dizendo que “só um banco com ética pode estar no meio rural”, porque se “preocupa com as pessoas”.