Amplitude das secas e das ondas de calor no sul da Europa condiciona agricultura em Portugal

“As mudanças climáticas são a maior ameaça ambiental do século XXI, com consequências profundas e transversais a várias áreas da sociedade: económica, social e ambiental”, afirmou Margarida Pereira, diretora da Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Beja, na sessão de abertura da conferência “Alterações Climáticas e seus Impactos na Agricultura”, organizada pela “Vida Económica”.
“As temperaturas estão a aumentar, os padrões da precipitação estão a mudar, os glaciares e a neve estão a derreter e o nível médio da água do mar está a subir” e não vale a pena ter ilusões: “é de esperar que estas alterações prossigam”, disse ainda aquela docente. E se é verdade que “a agricultura sempre se confrontou com a variabilidade climática”, para Margarida Pereira não há dúvidas: perante tamanhas mudanças os agricultores devem “modificar certas práticas” habituais e “adaptar-se a estas novas condições”.

O docente do Instituto Dom Luíz, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Ricardo Trigo, interveio no início da conferência para falar do impacto das alterações climáticas na frequência e amplitude das secas e ondas de calor no sul da Europa, focando desde logo a evolução das anomalias de temperatura entre 1951 e 2011, das secas muito severas e muito extensas, dos anos secos e húmidos, das mudanças nos valores médios de precipitação no Mediterrâneo – “hoje temos mais variabilidade de precipitação do que há 60 ou 70 anos”, disse –, das alterações do ciclo hidrológico médio – “o Mediterrâneo vai continuar a representar um dos principais ‘hotspots’ das alterações climáticas”, acrescentou – e das ondas de calor. Essas, como as que ocorreram em 2003 e 2010 e que condicionam a ocorrência de incêndios e a extensão das áreas ardidas por todo o território nacional e todo o clima a que vamos estando sujeitos.